segunda-feira, novembro 20, 2006

Olham-se

Eles olham-se.


Num olhar penetrante, um olhar intenso, daqueles olhares que outrora não lhe sabiam falar. Eles sorriem sem nunca despregarem os olhos cintilantes um do outro. Existe um cheiro a doces, a gomas de criança e a rebuçados. Olham-se. Com a intensidade de quem trespassa e lê o pensamento mais secreto. Eles tocam-se. E as mãos entrelaçam-se. O coração bate aceleradamente. Olham-se. Sem medo. Com um brilho que é de lágrima que escorre pela face. Finalmente, dão o abraço que sentiram como seria no olhar. Olharam-se e sorriem. Um sorriso de criança inocente que não tem nada a esconder.

Os outros olham-nos porque outrora já foram crianças também.

sábado, outubro 28, 2006

Tudo e Nada

Cansei de esperar pelas promessas que me fazias.
Cansei de te ter longe de mim.
Cansei de viver só para ti.

Será sempre assim, uma vida repleta de nada e de tudo, porque o nada é tudo o que nos preenche…
… é tudo o que fica depois.

Será a ilusão de ter tudo, ou, a ficção de não ter nada?
Será o medo de ter uma mão cheia de sonhos e outra de experiências desabitadas?

Será?

sexta-feira, agosto 11, 2006

Sem Ti

O despertador toca, estico o braço, a cama vazia.
A tua almofada continua ao lado da minha. Com o teu cheiro.
Ainda não tive coragem de a pôr para lavar.
Levanto-me, reparo no espaço vazio ao lado da minha escova de dentes… é inevitável não reparar nos indícios da tua ausência.
Tomo banho sozinha.
Não tenho a tua presença quando vou para o trabalho, nem, a tua companhia quando volto. Almoço sem ti e passo a tarde na solidão da casa escura.

E chega mais uma noite em que adormeço sobre a cama, com a cabeça naquela que era a tua almofada. Por breves momentos, é como se ainda ali estivesses, o teu corpo sobre a minha cama e o teu abraço antes de adormecer.

Tudo indica que já cá não estás, mas, todos os meus gestos são como se a tua presença continuasse a ser uma constante na minha vida.

segunda-feira, julho 31, 2006

Silêncio

Tinha longas conversas contigo no silêncio. Sentia a minha mão na tua e fartava-me de falar contigo naquele silêncio. Acho que posso afirmar que és a pessoa com quem eu mais falei sem mexer os lábios. Agora questiono-me se falaríamos a mesma língua. Se alguma vez percebeste aquelas palavras que nunca te disse. Ou se tu me dizias aquelas palavras que nunca ouvi. Se sentias o mesmo que eu quando o teu corpo tocava no meu. Ou se foi tudo apenas conversas trocadas.

Agora tento falar contigo e sinto que as palavras rolam no vento e quando chegam até ti vão transformadas de uma tal forma que as nossas conversas não passam de desconversas do assunto real.

Imagino conversas contigo... não são planos de futuras conversas...
...nada das coisas que costumo pensar com clareza vêm à memória, apenas fica a angústia.
Mas... se eu não te agarrar, agarras-me tu?
Ou cada um de nós seguirá seus caminhos?
Assim como, tudo aquilo que teve importância outrora e significado para ambos, perde toda a sua essência e é como se nunca tivesse existido?

Será que pensas em mim? Ou “ao ver-te nos olhos, beijei-te e morri”?

segunda-feira, junho 19, 2006

Estou mais só que sozinha....

Oiço risos de gente que está ao meu lado, ouço vozes que me chamam e deixo de as ouvir.
Desisti.
Sinto-me pura e simplesmente só, por mais que nunca esteja sozinha.
Por mais que me chamem para perto, por mais que se queiram meter na minha vida, por mais que a queiram importunar e finjam agora ser meus amigos.

As vozes ecoam na minha mente, oiço-as como se fossem ao longe e vejo agora que se riem de mim.

Não me sinto sozinha.
Sinto-me apenas só.
Porque nunca estou onde quero, com quem quero e acima de tudo
Nunca sinto a alegria que quero sentir dentro de mim.

Sinto o vazio da solidão, sinto o pó que o vento trouxe para dentro do meu coração.
Os restos da tempestade que por aqui passou, e que o homem das limpezas ainda não veio arrumar.

Sinto-me apenas...

....mais só que sozinha.

quinta-feira, junho 01, 2006

Fui

Já nada me diz.
Já nada faço aqui.
Já não sei o que aprendi.
Nem sei porque morri.

Fui vento em liberdade.
Fui fogo numa tempestade.
Fui sol que te aquece.
Fui chuva que te aborrece.

Quero voar.
Voar sobre o mar.
Quero ser onda
E não mais voltar!

sexta-feira, maio 05, 2006

Absorta

Paro.
Deixo de fazer tudo o que estava a fazer.
De repente sentimentos vêm até mim à velocidade da luz.
Apoio os cotovelos na mesa, baixo a cabeça e coloco as minhas mãos à volta.
Deixo os pensamentos dominarem a minha mente.
Escorre-me uma lágrima e…
Continuo sem saber o que foi feito de ti, dentro de mim.

Um aperto, um suspiro, uma angústia.
Uma vontade de acordar e ser feliz...

Tenho saudades do que sentia quando olhavas para mim com aquele ar de apaixonado

sexta-feira, abril 28, 2006

Aprendi a chorar em silêncio...

Aprendi a chorar em silêncio enquanto passavas a tua mão no meu cabelo.
Quando dormias a meu lado e eu sufocava-me na almofada…

Foi há muito tempo que aprendi que o silêncio traz a tristeza que carrego dentro de mim.

Foi há muito tempo que aprendi a viver intensamente o silêncio das lágrimas que choro por ti…

segunda-feira, abril 17, 2006

Esta é só uma Noite para Partilhar...

...qualquer coisa que ainda podemos guardar.

Já não existe o medo de te perder porque já não te quero ter.
Já não existe a sombra do medo da noite, nem a tristeza do acordar.
Posso, agora, fugazmente aproveitar cada beijo teu, sentir cada recanto do teu corpo e apertar-te no meu abraço.
Posso deixar de fingir, porque já não há nada a esconder, e posso-te descobrir, porque sei que te vou esquecer.
Até posso deixar o teu cheiro penetrar na minha pele, sentir o teu carinho com o brilho no olhar e sorrir do teu sorriso sem ter medo de te amar.

Esta é apenas uma noite para viver os sonhos que sonhámos juntos.

sexta-feira, abril 14, 2006

O Passado veio ter Comigo

O passado saiu à rua sorrindo para toda a gente, vestiu a sua melhor roupa, subiu ao palco e representou.
Freneticamente estalava os dedos e batia o pé no desejo de todos o esquecerem.

Saiu da sua redoma de vidro onde tinha vivido a vida que a vida lhe trouxera até então.
Recordou aquilo que a memória lhe trazia sobre o que a mente permitia a ele próprio recordar.


Chorou na lembrança de quem não tinha protegido.
Esqueceu-se quem foi e o que tinha prometido.
Já nada restava de quem tinha esquecido.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Minguante

Ah quem me dera que tudo fosse um sonho
e o sonho uma realidade.

Lá fora na rua sou cada papel,
que na minha vida cabe.
Sou uma onda sem mar,
um mar sem maré.
Sou vento que uiva sem se ouvir,
Sou, simplesmente, pela metade.

sábado, fevereiro 04, 2006

Encontrei-me e Perdi-me

Encontrei-me sozinha entre aquelas quatro paredes brancas.
Estava frio.
Um frio que nos chega aos ossos e nada nos aquece. Aquele frio de que quem nos toca sente-nos quentes, mas, trememos do frio que nos vem de dentro.

Olhei à volta.
Vazio.
Sem portas, nem janelas.

Entrei sem saber e não consegui sair.
Como aqueles vícios que começamos a ter sem dar conta e não conseguimos deixar de os ter. Ou, aquelas pessoas que entram no coração e não sabemos como as tirar de lá

Ali estava eu.
Naquelas quatro paredes que lentamente começavam a ganhar forma.

Mas, subitamente, as quatros paredes movimentam-se a uma velocidade frenética que me deixava atordoada, ansiosa, sufocada.

As paredes eram vermelhas, pretas, amarelas, verdes, as cores alteravam-se em fracções de segundo à medida que apareciam e desapreciam janelas e portas de ferro, cerejeira, carvalho, plástico... Uma, duas, três, nenhuma.

Tento aproximar-me das portas, quase que lhes toco, desaparecem, mudam de sítio.

Já não consigo sair daqui.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Como Folha de Papel

São pedaços de papel que caem em meu redor. Pedacinhos pequeninos que não param de cair.

Sei que foste folha de papel que eu marquei. Mas, também, sei que não fui eu que te rasguei.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Caixinha de Recordações

Remechi na minha caixa de recordações, li cartas que te escrevi, li cartas que me escreveste. Falam de um sentimento que já não conheço de um desejo que já não sinto.

As cartas falam de sonhos, falam de sofrimentos, de perdas e de teimosias. Falam de saudades, de desejos e de orgulho. Falam de mim, falam de ti e falam de nós.

São cartas minhas que foram tuas

e cartas tuas que foram minhas,

são lembranças nossas
de uma fantasia.