domingo, março 13, 2005

Saudades

Abri-te a porta e estavas sorridente, não percebi o que te fez vir ter comigo nesse dia, mas estavas particularmente bem disposto. Conversámos horas a fio sobre trivialidades enquanto os nosso olhares diziam aquilo que realmente queríamos. Todas as desculpas eram perfeitas para um pequeno toque, para nos voltarmos a sentir. As saudades que eu tinha de te sentir... e tu também...
Parámos, olhámo-nos e abraçámo-nos, num abraço que queríamos que pudesse durar só mais um bocadinho... e mais um bocadinho. Várias foram as tentativas em vão de nos largarmos, mas sabíamos que tinha de ser... nunca percebi muito bem porque tinha de ser, mas tinha de ser e era isso que importava.
Trocámos miminhos e carícias sempre na lembrança do quanto eram efémeras, sempre foi isso que me deixou triste quando estava contigo: a efemeridade dos nossos momentos. Nunca os soube aproveitar realmente.
Mas, ali estávamos nós, mais uma vez, sentido-nos, sentindo o teu cheiro, o teu toque, a tua pele... como pode isso saber tão bem!
No entanto, sabíamos que não podíamos, simplesmente, matar saudades porque isso traz-nos ainda mais saudades. Saudades essas que não chegam para ultrapassar as barreiras que nos separam. Barreiras que tu criaste dentro de ti, barreiras que tu trouxeste para mim, barreiras que eu construi para não sofrer tanto com as tuas barreiras. Tudo isto acaba por ser um mundo complicado de mais para se poder lutar, onde tudo são barreias e eu já não te conheço e tu já não me conheces.

Mas, mesmo assim, sabe tão bem sentir-te...

quinta-feira, março 10, 2005

Viajando de Comboio

Todos os dias faço o mesmo trajecto de comboio (excepto fins-de-semana) tento ir sempre na primeira carruagem para ao chegar ao meu destino ter de andar menos. Constato que tal como eu que acabo por fazer esta rotina (como eu odeio rotinas) as caras que se encontram à minha volta também são sempre as mesmas!
Assim, comecei por me debruçar acerca de o que iriam as pessoas a pensar enquanto iam no comboio, como seriam as suas vidas, as suas preocupações, se seriam pessoas felizes, amarguradas com a vida.. ia tentado perceber mil e uma coisas acerca da vida desta dúzia de pessoas que se encontra na mesma carruagem que eu. Creio que muitos de nós fazemos isto (temos de nos entreter de alguma forma) vamos fazendo suposições acerca da vida e do modo de ser dessa pessoa.
Ora, se a pessoa vai a ler ficamos a saber que gosta de ler e para além disso, tomamos conhecimento do tipo de livro que gosta de ler e por aí fora (até ficamos a saber quanto tempo ela demora a ler os livros, cada vez que aparece com um novo). Ora, até aqui tudo bem. Porém, no outro dia, dei por mim a contar a vida de meia dúzia de pessoa que vão todos os dias na minha carruagem!! Fiquei perplexa! Ainda não me tinha apercebido do quando eu já sei da vida de pessoa que nem conheço!
Vejamos, existe um Sr muito bem vestido, anda pela casa dos trinta e poucos anos, usa fato italiano e aparenta ser homossexual (desde já se esclareça que não tenho nada contra, e acho muito bem que as pessoas não tenham problemas em se afirmar, este não foi qualquer juízo de valor, apenas uma constatação). Este Sr com uma postura bastante educada falando baixo no comboio tem uma amiga cuja idade já se deve situar acima da casa dos 40, esta amiga gosta muito de falar alto, rir-se, bisbilhotar as coisas, para além disso, esta amiga tem uma filha que se chama Sofia. Esta Sra gosta de ouvir música, sei que gosta de Brian Adams e vai sempre com uns phones, o que acho particularmente interessante tendo em conta a sua faixa etária. Ora, conversas à parte que eles têm, as quais já sei mil e uma peripécias das suas vidas, fiquei a saber que o Sr é realmente homossexual pois fala do seu companheiro. Fiquei especialmente orgulhosa por ele não ter qualquer tipo de problemas e ter essas conversas no comboio, sendo totalmente assumido!
Para além deste dois, existem umas cinco senhoras que são mais do que empregadas de limpeza, elas fazem tudo na casa dos seus patrões inclusivamente servi-lhes o pequeno almoço, almoço e jantar à mesa! Sei também que ganham menos que o ordenado mínimo (o que achei bastante estranho). Para além disso, gostam de fazer bordados e trocam desenhos de bordados e receitas entre si, uma ou outra também gosta de ler, inclusivamente, lê livros dos patrões quando anda a limpar os móveis.
Bem... eu poderia me estender aqui e fazer muitas mais descrições acerca destas sete pessoas e ainda de mais três casais pelo menos que não mencionei e que cada um tem as suas particularidades, mas a vida desta pessoas não é para nadar aqui em praça pública, passo a expressão.
Ora, se não interessa porque é que eu a estou a narrar? Pergunta o leitor. Já se aperceberam de que por vezes conhecemos melhor os estranhos e sabemos mais coisas das suas vidas do que da maioria das pessoas que conhecemos realmente?(estou a falar em conhecidos, e não em amigos) Não acham interessante que as pessoas tenham tantas máscaras sociais quando convivem umas com as outras e que quem esteja de fora se aperceba de muitos pormenores ficando a conhece-las melhor que muitos?

Até aqui menos mal, mas agora deixem-me acrescentar um pormenor fora deste caso de viajar nos comboios. Há pessoas, segundo a minha pequena experiência de vida, não são poucas pessoas, que falam mais facilmente sobre elas próprias com desconhecidos, pessoas que acabaram de travar conhecimento e que, porventura, calculem que não ficará qualquer vinculo afectivo entre elas. Uma pessoa é capaz de falar com um estranho acerca de todas as frustrações da sua vida e do que a preocupa e a entristece. Ao invés de falar com as pessoas com que realmente se preocupam e mostrar-lhes isso! Será que nunca se aperceberam que confrontar o alvo dos vosso problemas com esses mesmos problemas é caminhar para uma resolução dos mesmos? Andar a remoe-los ou ignorá-los, não é solução. Um desconhecido merece mais conhecer-vos do que as pessoas que se preocupam com vocês?

Sou a única que penso que se as pessoas falassem mais umas com as outras, muitos mal entendido nunca teriam existido? Quantas tempestades comportamentais não teriam sido evitadas se as pessoas falassem mais umas com as outras!?

Andam muitas pessoas por aí com o seu mundo ao contrário, ou, sou eu que tenho o meu?

terça-feira, março 08, 2005

O dia da Mulher!

Cheguei à faculdade e ouvi darem-me os parabéns. Pela rua eu vi mulheres com flores na mão e alguns homens também que, certamente, iriam levar à sua amada, à sua mãe ou a uma qualquer outra mulher importante na sua vida. Mais tarde, quando cheguei a casa, à hora do jantar, ouvi um jornalista dizer que hoje é o dia da mulher. (confesso, que foi aqui que eu pensei “então foi por isso que na rua vi tantas mulheres com flores!”). Hoje, até temos programação especial na televisão!
Mas que raio! É preciso haver um dia nosso para se lembrarem de nós? Para alguém se lembrar de fazer um miminho!? Sinceramente, se alguém me quer fazer um miminho que o faça no dia diferente daquele em que todos fazem!
Ora, o que realmente me indigna é o facto de existir o dia da mulher e algumas delas ainda se vangloriarem todas por hoje ser o dia delas! Como é que alguém pode ver o dia da mulher como uma igualdade entre os Homens? Segundo o meu ponto de vista, termos um dia nosso, é ter alguém a lembrarmor que de certa forma somos vista como diferentes. Somos contempladas como o sexo mais fraco, mais sensível, mais .... mais.. mais... Isto não é descriminarem-me? Não digo que em determinadas situações não seja benéfico verem-me dessa forma, mas... mesmo assim não acho correcto! Se alguém segura a porta porque eu vou atrás, gostava que o fizesse porque simplesmente é uma pessoa simpática (independentemente de ser rapaz ou rapariga) e não por eu ser rapariga! Se alguém é mais meigo a falar comigo de forma a não ferir as minhas susceptibilidades, gostava que o fizesse porque é essa a sua forma de ser, e não por eu ser mulher! Assim como, se por acaso são várias as noites em que entro numa discoteca sem pagar, gostava que o permitissem devido aos meus lindos olhos e não por eu ser mulher! (eh eh)
Não sei se quem passa por mim e me dá os parabéns é porque é deveras simpático e super valoriza a mulher, ou apenas porque hoje é o nosso dia, ou se ainda está a ser hipócrita e acha este dia irrisório (tal como eu), no entanto, não consigo deixar de ser indiferente a essa pessoa. Como tal, as minhas desculpas!
Enfim, o que eu quero aqui dizer é que ao haver um dia para nós é estarem a chamarem –nos diferentes! Onde está aquele lema de “todos diferentes, todos iguais”? É como existir o dia do paraplégico, o dia do livro, o dia da árvore.... e por aí fora, creio que se formos a ver todos os dias do ano são um dia de qualquer coisa! Tudo é para ser lembrado, vivido e feito quando o tem de ser e não quando é o seu dia! Se ninguém nunca dá valor ao livro é no dia do livro que vai ler? Que alegria me dá isso? Cada um sabe de sim e das cosias que gostas e lhe dão prazer de fazer. Não me vou lembrar de plantar uma árvore apenas porque é o dia da árvore, soa-me a obrigação e não a um gesto que me contemple!

Por tudo o que foi mencionado e muito mais que havia a indicar sobre este assunto (talvez numa próxima oportunidade), por favor, não se lembrem de nos dar valor apenas nesse dia! Cada um tem a importância na vida de cada que merece (ou não).

A vocês do sexo oposto, eu lembro-me sempre de vos dar valor! (Aos que merecem, confesso que não são muitos! Mas isso já é problema vosso!!)



quinta-feira, março 03, 2005

As pessoas como um todo!

Como é que um momento pode decidir a vida de duas ou três pessoas? Como é que um comportamento pode julgar uma pessoa !?
Diariamente, todos somos julgados pelos nossos comportamentos, contudo, como comportamentos manifestos individualmente e não como um todo! Porque é que se eu tiver um comportamento dito fora do parâmetros desejados de quem me julga serei continuamente punida relativamente a ele. Sem nunca me deixarem esquecer que o tive . Todavia, os milhares de comportamentos que tenho diariamente julgados benéficos nunca serão lembrados, nunca me julgarão através deles. Como se tudo isto não bastasse, não servem para compensar os comportamentos que tenho fora dos parâmetros desejados pelos outros.

Ora bem, resta-me pensar, ou eu estou deslocada deste planeta e ninguém faz como eu analisando as pessoas como um todo, que para além de não ser estático ainda é bastante complexo. Ou, então, dou oportunidades às pessoas erradas!